sábado, maio 28, 2005

Laventie
Na retaguarda das linhas portuguesas

A segunda década do século XX em Portugal foi particularmente turbulenta. O fim da monarquia, a constante agitação política e militar e o envolvimento do país na Primeira Guerra Mundial criaram o cenário em que o meu avô viveu o início da sua vida adulta.

Desde o início do conflito no continente europeu, que era notório o crescendo de crispação nas relações entre Portugal e a Alemanha. Os incidentes na fronteira sul de Angola, as facilidades concedidas a navios ingleses em alguns portos nacionais, o pedido inglês de peças de artilharia (a que o governo português respondeu com o envio da "Divisão Auxiliar à França"), o afundamento ocasional de navios portugueses são alguns dos episódios que marcaram esse clima de tensão.

Em Fevereiro de 1916, o governo português decreta o apresamento e requisição de todos os navios alemães atracados em portos portugueses; consequentemente, no início do mês seguinte, a Alemanha declara guerra a Portugal. É também nesse ano de 1916 (o ano das batalhas de Verdun e do Somme) que em Tancos se constitui o Corpo Expedicionário Português (CEP) formado por 30 mil homens e sob o comando do general Norton de Matos. Nele se integram vários militares recém chegados de Angola e que tinham sido anteriormente mobilizados para a expedição do General Pereira d’Eça. Entre esses militares encontrava-se o meu avô.

A organização do CEP revestiu-se de enormes problemas logísticos. A falta de armas e munições prometidas pelos aliados ingleses e franceses, a não rendição das tropas, a chamada de oficiais a Portugal sem que fossem substituídos e a constante tensões entre intervencionistas e não intervencionistas a que o Governo da República estava sujeito, contribuíram para o enfraquecimento das forças portuguesas.

Em 1917, foi decidido que as forças portuguesas ficariam subordinadas à BEF (British Expeditionary Force). E em Fevereiro desse ano, depois de vários meses de preparativos e treinos militares, o primeiro contingente português do CEP (em que o meu avô estava integrado) desembarcou no porto de Brest e dirigiu-se para a zona de Thérouane, na Flandres francesa.

À semelhança do que já tinha feito em África, o meu avô foi coleccionando postais das localidades por onde passava. Os postais seguintes são da vila de Laventie, uma pequena localidade situada na retaguarda das linhas portuguesas. Um aspecto curioso destes postais é o facto de possuírem legendas em francês e inglês e de mostrarem imagens da vila antes e depois da guerra. A guerra então em curso é referida como a guerra de 1914-1917.





































O site da vila de Laventie encontra-se aqui.

domingo, maio 22, 2005

O Regresso

Em 1915, com a rendição das forças alemãs do Sudeste Africano ao exército sul-africano e a destruição de vários aldeamentos cuanhamas no sul de Angola, a expedição comandada pelo general Pereira d’Eça devia agora iniciar o regresso ao ponto de embarque. Esgotadas pelas constantes movimentações, pelas condições do território (onde grassava uma seca há mais de quatro anos) e por alguns confrontos, o regresso foi uma longa e penosa marcha que as tropas esgotadas tiveram de realizar em direcção a costa.

Os dias do regresso sucederam-se monotonamente e sem grandes sobressaltos. Das memórias desses dias, o meu avô repetia com frequência o episódio em que se perdeu numa caçada.


O Tenente-Médico António Monteiro de Oliveira (à direita)
e um companheiro de armas, numa foto tirada em Moçâmedes, em 1915.

Foi durante a marcha de regresso a Moçâmedes que decidiu acompanhar um companheiro de armas numa caçada. Levando um cão que farejava possíveis presas, percorreram a savana devastada pela seca sem nada encontrarem. Ao fim de algumas horas, o meu avô – que não era caçador - desistiu da caminhada e regressou ao acampamento. O seu companheiro que persistia em incitar o cão a procurar alguma pista.

Caminhando sozinho pelo mato, percebeu ao fim de algumas horas que não encontrava vestígios do acampamento. Estava perdido no mato. Sem quaisquer referências resolveu parar. Talvez não estivesse longe do acampamento, mas caminhar ao acaso podia levá-lo a afastar-se cada vez mais.

A sorte sorriu-lhe ao fim de algum tempo quando ouviu o ecoar de um clarim. Felizmente nos acampamentos militares tudo funciona a toque de clarim; e este ouve-se a grande distância. Correu na direcção do som enquanto o ouviu, e voltou a parar; pouco depois um novo toque, proporcionou-lhe uma nova corrida. Ao fim de várias corridas, foi-se apercebendo do tropear de milhares de homens e cavalos. Acabou por entrar no acampamento em passo acelerado. Tanto quanto sabemos, o meu avô não voltou a participar em mais caçadas.

A chegada a Moçâmedes e o embarque para Lisboa não tiveram história. Regressando no mesmo navio que o general Pereira d’Eça, várias vezes lhe chamou a atenção para uma bronquite que se agravava. De nada adiantou, porque pouco depois de chegar a Lisboa, o general viria a falecer.

Os dois postais que se seguem são as últimas recordações da aventura africana do meu avô.


Espero na próxima semana poder começar a publicar postais que o meu avô adquiriu durante a sua presença na frente ocidental (1916-1918).

domingo, maio 15, 2005

Congo Belga
(2ª Parte)

A segunda parte da colecção de postais sobre o Congo Belga.




























domingo, maio 08, 2005

Congo Belga
(1ª Parte)

Esta é a última colecção de postais sobre África. Desta vez é o Congo Belga (que já se chamou Zaire e agora se chama novamente Congo). Trata-se de um conjunto de 20 postais, provavelmente adquiridos pelo meu avô em Luanda, em 1915 pouco antes do regresso a Portugal. Nestes postais podemos ler as palavras "minas de cobre" escritas sobre algumas imagens. O Congo Belga tinha fama de ser uma colónia mais desenvolvida que as colónias portuguesas.





























domingo, maio 01, 2005

CABINDA (1914)

A tampa da caixa sugeria algo promissor: 25 postais de Cabinda. Mas no seu interior estavam apenas doze. Não sei o que aconteceu aos restantes. Quanto à origem destes postais, sei que o meu avô não passou por Cabinda; imagino que os tenha comprado em Luanda, pouco antes do regresso a Lisboa,