sábado, outubro 22, 2005

Paris-Plage

Das recordações dos tempos vividos em França durante a primeira Guerra Mundial encontrei no "espólio" do meu avô vários blocos de 24 postais com imagens alusivas a diversos locais de França. Hoje ficam aqui imagens de Paris-Plage.




















sexta-feira, outubro 07, 2005

Em Campanha

A noventa anos de distância, as recordações do meu avô na no CEP, Flandres, vão-se diluindo no esquecimento. Das histórias de um homem tão conversador, restam agora pequenos episódios avulso sobre a vida na frente ocidental. São pequenas histórias, como a da primeira noite em solo francês, após o desembarque em Brest, quando dois soldados morreram de frio. Ou como aquele bombardeamento, durante o qual o corpo médico se protegia num abrigo, e houve um enfermeiro que se levantou e disse que "ia só espreitar". Assim que abriu a porta do abrigo caiu atingido por um estilhaço. "Arrastei-o para dentro. Já estava morto." Ou ainda a história do militar português, provavelmente inexperiente, que estava na trincheira e queria espreitar para o lado alemão. Colocou dois sacos de areia e espreitou por entre eles. Foi imediatamente atingido por um tiro certeiro.

Mas outros episódios são espantosos. Toda a logística foi um enorme problema para o exército português. As rendições não se faziam, escasseavam as roupas, as munições e os alimentos. E numa dessas pausas de guerra (que os militares dizem ser intermináveis), enquanto os homens de ambas as trincheiras se espiavam, alguém na trincheira portuguesa gritou “Olha um coelho!”. De imediato, vários soldados portugueses, em grande alarido, saltaram da trincheira em perseguição ao coelho. Do lado alemão, nenhuma arma disparou. Alguns oficiais portugueses, que ficaram na trincheira, perceberam o espanto dos alemães ao verem aquela algazarra e agitação do lado português.

E depois, há também a história pitoresca da visita do Príncipe de Gales a um aquartelamento português. Consta que o oficial da guarda não o reconheceu e lhe terá impedido a entrada. Quando o visitante se identificou como Príncipe de Gales, o oficial português terá respondido "Pois eu sou o Rei de Inglaterra!". Uns dias mais tarde, o Príncipe de Gales, numa recepção a oficiais portugueses, reconheceu o homem que lhe tinha proibido a entrada. Cumprimentou-o com um "How are you, daddy?"

O único relato em primeira mão que hoje me chega é um postal enviado aos pais em Maio de 1917, que revela as suas impressões.


Em Campanha 11-5-1917

Queridos pais
Recebi há dias carta de casa. (...) Junto envio o meu retrato armado em guerra.
Por enquanto isto por aqui não é muito mau se bem que já haja muitíssimo calor, e para este não estamos prevenidos.
Envio também um (...) com o meu colega, se a correspondência toda lá chegar, (...) que me não tenho esquecido de escrever. A minha madrinha escreveu-me todos os dias, manda-me jornais.
Por entre as saudades de casa e os dramas da vida na frente, a sorte acabou por sorrir ao meu avô. Desde a campanha em África, que não tinha uns dias de licença. Expôs a situação aos superiores que o autorizaram a vir a Portugal nos primeiros dias de Abril. No dia 9 de Abril de 1918, os alemães massacraram as linhas portuguesas.