segunda-feira, março 28, 2005

Mossâmedes (1914) - 1ª parte

Foi em Mossâmedes (a actual Namibe) que em 1914 e 1915 desembarcou grande parte do efectivo militar português, cujo objectivo era enfrentar a ameaça alemã vinda do Sudeste Africano e as populações sublevadas naqueles territórios. Como recordações da sua passagem pelo sul de Angola, o meu avô contava muitas histórias (na próxima semana espero publicar aqui algumas) e trouxe vários postais. Num envelope com a inscrição "Mossamedes 1914", encontrei duas colecções de postais sobre esta cidade. Hoje fica aqui a primeira dessas colecções.





































sábado, março 19, 2005

S.VICENTE (1914)
(3ª Parte)

Pessoas e costumes, neste último conjunto de postais de S. Vicente.























sábado, março 12, 2005

S.VICENTE (1914)
(2ª Parte)

Continuo hoje a publicação dos postais de S.Vicente. Como escrevi anteriormente, o envelope com a inscrição “S. Vicente 1914)” continha uma colecção completa de postais (em forma de livro) e um conjunto de postais avulso. Para os publicar aqui tentei agrupá-los com algum critério. Assim tentei ordenei-os pelo aspecto gráfico comum (que sugere que pertencem à mesma colecção) e pelos temas. Desta forma, identificam-se dois blocos principais: locais e hábitos da população.

Hoje ficam aqui imagens sobre os locais de S. Vicente.












domingo, março 06, 2005

S.VICENTE (1914)
(1ª Parte)

Num envelope, identificado com a inscrição "S. Vicente 1914", encontrei uma colecção de postais sobre esta cidade de Cabo Verde e ainda alguns postais avulso. Apesar da data indicada no envelope, é mais provável que tenham sido comprados em 1915, a quando do regresso a Lisboa do contingente do General Pereira d'Eça (na viagem para Angola havia sempre a recomendação de levar o mínimo de bagagem; além disso o regresso era sempre uma incerteza)

O postal que me despertou mais interesse data de 1908 e assinala uma visita do Príncipe-Real D. Luís Filipe a S. Vicente. Este foi enviado por um amigo da família. Na imagem podemos ver uma inscrição no edifício onde se lê "VIVA SUA ALTEZA O PRINCIPE REAL".



As imagens que se seguem constituem uma colecção de postais que têm a forma de um pequeno livro de onde se podiam destacar os postais pelo picotado. A ordem pela qual as imagens estão dispostas é a mesma que encontrei no livro.























Não resisto a fazer um pequeno comentário ao último postal.
É estranho como uma imagem de miséria humana (pessoas vivendo numa cubata, um criança com ventre inchado) pode fazer parte de uma colecção de postais. Qual seria a intenção de quem o incluiu no conjunto dos postais? E que sentimentos despertaria nas pessoas daquele tempo que o adquiriam? Tocar-lhes-ia o coração? Ou apenas o considerariam uma imagem pitoresca?
Há algum historiador ou sociólogo que possa responder a estas questões?

sábado, março 05, 2005

Introdução

Antigamente...

Esta palavra serve de mote para muitos idosos começarem a desatar um novelo de recordações, para desabafarem as suas mágoas, para manifestarem o seu espanto perante tanta coisa que hoje em dia é novidade para eles. Muitos de nós ouvimos aos nossos avós histórias que começavam com essa palavra. Na minha família, tive vários avós e tios-avós que gostavam de contar histórias de antigamente. Infelizmente já existem poucos representantes dessa geração. Ficam as memórias e alguns objectos pessoais como recordação desses entes queridos.

Do meu avô-paterno tenho poucas recordações. Lembro-me de um senhor velhinho, que se sentava no topo da mesa, e que se sentava numa certa cadeira da sala de estar. Faleceu em 1969, quando eu tinha cinco anos. Depois a figura do meu avô foi sendo construída na minha mente pelas recordações que me foram transmitidas pela minha avó, pelas histórias contadas pelo meu pai, e por algum comentário que ocasionalmente faziam a meu respeito: "És mesmo parecido com o teu avô!"

Entre vários objectos pessoais do meu avô, que a minha família conserva como recordação, encontrei recentemente várias colecções de fotos e bilhetes postais. Alguns foram-lhe enviados por familiares e amigo que viajavam por esse mundo fora; outros são colecções adquiridas durante as suas diversas colocações como militar, e também durante as suas comissões no sul de Angola (1915-1916) e na Flandres (1916-1919). Algumas dessas colecções eram pequenos "blocos de postais", encadernados como se fossem um pequeno livro; outras dessas colecções são postais avulso guardados em envelopes onde se identifica o seu conteúdo: "Sul de Angola 1916", "S.Vicente 1914", "Penafiel 1923" ou "Pico e Flores 1914".

Então quem era o meu avô?

António Monteiro de Oliveira nasceu em 1883, em Carnide; era filho de um professor do Colégio Militar e seguindo a tradição familiar, estudou nesse mesmo Colégio, tendo terminado os estudos graduado em segundo-sargento estudante. Seguiu o curso de Medicina em Lisboa. Durante as greves académicas de 1906, a sua militânica monárquica leva-o a "dar umas bengaladas" nos piquetes de greve republicanos que impediam a entrada dos alunos na universidade. Essa militância acabaria por lhe trazer dissabores quando acabou o curso: a República fora implantada e um monárquico dificilmente arranjava emprego.

Em 1913, juntamente com outros colegas monárquicos, decidiu concorrer para uma vaga no exército. Parecia ser um emprego tentador: a tropa só admitia gente saudável, pelo que se antevia uma vida descansada. Fruto da sua frequência do Colégio Militar, o Alferes-Médico Monteiro de Oliveira foi rapidamente promovido a Tenente.

Mas, no ano seguinte, os acontecimentos mundiais alteram uma perspectiva de vida tranquila. No Sul de Angola, frequentes incidentes com forças alemãs (provenientes do Sudoeste Africano) e uma situação de sublevação generalizada entre a "população indígena" (cuanhamas e cuamatos) levam o governo português a enviar um contingente militar para aquele território. Esse contingente chegou a Angola em 1914, comandando pelo Tenente-Coronel Alves Roçadas, sendo reforçado no início do ano seguinte, por uma segunda expedição comandada pelo general Pereira d’Eça[1]. Foi nesta segunda expedição, e integrando um Esquadrão de Dragões, que seguiu o Dr. Monteiro de Oliveira, como oficial-médico[2].

Embora Portugal não estivesse em guerra com a Alemanha, os submarinos alemães tropedeavam frequentemente os navios neutrais, e quando se tratava de navios portugueses a caminho de Angola era do seu interesse fazê-lo. Assim, os navios mercantes eram escoltados por unidades de escolta improvisadas (por vezes, velhos navios de cabotagem reduzidamente artilhados) [3]. O paquete que transportava a expedição de Pereira d’Eça, também foi escoltado por um velho navio de guerra; a marcha lenta deste último limitou o avanço do paquete, até que houve necessidade de fazer escala em Cabo Verde, para realizar grandes reparações no navio militar. Nesta ocasião, o comandante do paquete decidiu assumir a responsabilidade de seguir sem escolta – bem mais depressa – garantindo que não atrasava a concentração da expedição em Luanda.

Naquela cidade o Dr. Monteiro de Oliveira pôde encontrar-se com um primo, o capitão-tenente Joaquim Mata Oliveira [4] que estava na guarnição de uma divisão naval. Estacionada em Luanda. Antes de seguir para o Sul deixou-lhe cartas para a família, pois daí para a frente os correios não eram fiáveis. A expedição desembarcaria finalmente em Moçâmedes, onde seria saudada pelo Governador Norton de Matos. Seguiram-se várias movimentações e operações militares no Sul de Angola até ao momento em que a sublevação foi dominada e os alemães definitivamente repelidos.

Em 1916, o Dr. Monteiro de Oliveira regressou à metrópole, e foi destacado para Tancos (o perímetro de Tancos era o na época o principal centro de treino militar dessa época). Preparava-se a intervenção militar na Flandres ao lado dos Aliados. Nos dois anos seguintes o Capitão António Monteiro de Oliveira integrou o CEP (Corpo Expedicionário Português). Só regressaria definitivamente a Portugal em 1919.

Nos anos seguintes foi colocado em várias localidades do nosso país; também teve de se deslocar a diferentes vilas e cidades para fazer tratamentos e visitar doentes.

Dessa vida em constantes andanças de um lado para o outro, foi guardando bilhetes postais como recordação. Essa colecção de postais foi-me entregue recentemente. Mostram imagens de um mundo que já não existe; parecem-me ser um testemunho importante de uma época da nossa história. Pessoalmente, e porque tenho o "bichinho da história", achei estes postais muito interessantes.

Creio que as imagens contidas nesses postais nos dão uma imagem daquilo que era o nosso mundo há quase cem anos. Imagino que para quem nasceu ou vive nessas vilas e terras, estes postais terão um interesse acrescido. É para dar a conhecer essas imagens que este blog existe. Para ajudar a mostrar como era este mundo. Antigamente.


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NOTAS
[1] – Pereira d’Eça foi Ministro da Defesa até comandar a força que iria reforçar o contingente português em Angola.
[2] – Sobre a Guerra em Angola(1914-1916, ver Portal de História - A Guerra em Angola.
[3] – É conhecida a história da escolta do draga-minas Augusto Castilho ao paquete S. Miguel. Quando um submarino alemão se preparava para atacar o paquete, o pequeno draga-minas lançou-se sobre ele, conseguindo atingi-lo na torre. Seguiu-se um combate desigual; o submarino alemão tinha um poder e alcance de fogo claramente maior que o draga-minas. Após algumas horas de combate, o draga-minas afundava-se (juntamente com o seu comandante, Carvalho Araújo, ferido mortalmente). Algumas semanas depois, os sobreviventes portugueses chegariam ao Açores numa baleeira comandada pelo 1º Tenente Ivens Ferraz (segundo comandante do Augusto Castilho), enquanto o submarino recolheria a Kiel para reparações. Alguns passageiros ingleses que seguiam a bordo do S. Miguel e assistiram àquele combate naval tão desigual, felicitaram o comandante português e homenagearam os marinheiros portugueses, afirmando que eles "eram tão bons como os ingleses" (era o máximo que os ingleses vitorianos conseguiam dizer sobre os estrangeiros).
[4] – O Almirante Mata Oliveira viria a ser Governador de Macau, tendo o seu nome numa rua e numa praça junto ao Clube Militar Naval. As autoridades chinesas não mudaram o nome dessa rua e dessa praça.